terça-feira, 22 de outubro de 2019

Pregações datadas


Um dia desses, eu estava ouvindo uma rádio evangélica bastante conhecida, que tem uma programação tradicional, quando começou a pregação de um determinado pastor.

Conforme ele falava, podia-se perceber que se tratava de uma mensagem gravada há cerca de 15 anos atrás.

Por quê?

Explico melhor...

Foi muito interessante ouvir uma pregação antiga, que permitiu - digamos assim - ouvir bem mais do que estava sendo dito.

Obviamente, o pastor em questão pretendia transmitir uma mensagem bíblica, mas o que gritou aos ouvidos foi uma ladainha sobre a situação social e política da sua época.

Chega-se a esta conclusão quando se contextualiza a sua retórica e os exemplos e ilustrações utilizados, que permitiam datá-la do começo dos anos 2000.

Também foi inevitável concluir que o excesso de referências sociais, econômicas e políticas que lhe eram contemporâneas "afogou", por assim dizer, a mensagem bíblica num mar de argumentos "mundanos" e "ideológicos".

A pregação antiga ouvida hoje soa (com o perdão do leitor) inútil, inócua e despropositada.

Talvez até tivesse a sua razão de ser no começo do século XXI, mas o que chama a atenção é o excesso do apelo sensacionalista ao seu (então) contexto quando se supõe que a mensagem bíblica deva (ou deveria) ser para todos os públicos e todas as eras.

Não é difícil imaginar, portanto, que o mesmo fenômeno esteja ocorrendo hoje em dia: o conflito entre a visão de mundo conturbada e peculiar do pregador e a verdade eterna e simples do evangelho.

Tudo indica que a tal visão de mundo está ganhando de goleada...

(ainda não conseguimos descontextualizar aquele 7x1)

O veredito caberá ao ouvinte do futuro.

Precisamos mesmo aguardar até lá?