A acusação que pesa sobre a deputada (PSD-RJ) e pop star gospel Flordelis (clique aqui para ler a matéria do El País), a se confirmar (garantindo-lhe a plena defesa), é uma réstia de luz que permite enxergar os fétidos intestinos do que se transformou parte muito expressiva do evangelicalismo no ex-Brasil.
São tantos dados pirotécnicos sobre uma suposta "espiritualidade" que preferimos nos concentrar na frase que a deputada teria dito: “Fazer o quê? Separar dele não posso, porque senão ia escandalizar o nome de Deus".
Considerando-se que esta informação foi dada por Promotor de Justiça que cuida do processo, é muito provável que a afirmação seja verdadeira.
Também são inúmeros os ângulos pelos quais se pode tentar analisar a questão.
Entretanto, "o que eles fazem em oculto, o só referir é vergonha" (Efésios 5:12).
Por isso preferimos nos concentrarmos na frase acima transcrita, porque ela revela que - para este segmento muito popular do evangelicalismo brasileiro - a imagem vale muito mais do que a palavra.
Se já não bastasse a releitura prática que eles fizeram de Mateus 6:33, que na versão deles diz "buscai, pois, em primeiro lugar, o poder político e o governo, e todas estas coisas vos serão acrescentadas", na verdade estão muito mais preocupados com o que os outros vão falar...
Neste mundinho em que muita gente diz "sentir no coração" um "chamado" e imediatamente funda uma "igreja" na garagem de casa, imagem e popularidade são valores absolutos e inegociáveis.
Por mais que prezem a imagem de "defensores da vida e da família" nas suas pregações ideológicas de ocasião, na prática vida e família são valores secundários, que podem ser cinicamente negociados e facilmente descartados quando surge a ameaça de "escândalo".
Nas suas "revelações" particulares em terra de mais caciques do que índios, só existe espaço para o narcisismo travestido de "espiritualidade" e ai de quem ameaçar a imagem de piedade tão duramente fabricada...
Bíblia e religiosidade são meros instrumentos que essa gente usa a seu bel prazer.
E ninguém lhes confronta, porque amanhã, quem sabe, eles poderão fundar a sua própria "igreja" e dela se beneficiarem.
Melhor se calar (por enquanto).
O "nome de Deus" é - lamentavelmente - mero joguete, uma espécie de "coringa" ao qual se recorre conforme a situação aperta.
Felizmente, "nada há oculto, que não haja de manifestar-se, nem escondido, que não venha a ser conhecido e revelado" (Lucas 8:17, 12:2; Mateus 10:26, Marcos 4:22).
Detalhes sórdidos à parte, a dura verdade é que, em muitos arraiais "evanjélicos", hoje impera uma versão macabra de hedonismo com alto poder... de implosão.