terça-feira, 8 de setembro de 2020

Testemunho de verdade


Pedindo desculpas por retomar o trágico e grotesco "espetáculo" do caso Flordelis, o fato é que aquela aberração continua rendendo manchetes vergonhosas que têm causado muita revolta em denominações que se julgam "perseguidas" após se considerarem atingidas - ainda que marginalmente (com o perdão do péssimo trocadilho) - pelo mar de lama que avançou impiedosamente sobre os arraiais evangélicos. 

Sempre há algo de bom, entretanto, que se pode extrair de tanta imundície. 

Nesta enxurrada insalubre e interminável de notícias bizarras, o Estadão traz duas matérias que revelam detalhes, com o perdão da palavra, particularmente "nojentos" do ocorrido: 



Muita gente certamente quer fugir dessas notícias como o diabo da cruz, mas seria bastante, digamos, "pedagógico" se tapassem os narizes e lessem pelo menos essas duas matérias na sua íntegra e aproveitassem para fazer uma humilde reflexão. 

Constatariam, por exemplo, que o relatório da investigação policial inclui o seguinte trecho: 

      “(A testemunha) narra episódio em que sua ex-supervisora, em meados de 2007, ao aceitar o convite feito pela declarante e visitar a igreja de Flordelis, reconheceu a pastora como sendo frequentadora da mesma casa de swing que ela frequentava”. “Complementando, inclusive, que a então pastora tinha um quarto exclusivo ali.” 


"Quarto exclusivo"... numa casa de swing...

Sim, é isto mesmo o que você leu, o relato consta de um documento oficial do inquérito policial que serviu de base para a decretação judicial da prisão preventiva de vários filhos do (até então) poderoso casal gospel

Obviamente, este não é o único detalhe sórdido do inquérito, e juntamente com os demais indícios colhidos na investigação, tudo - absolutamente tudo - deverá passar pelo crivo do devido processo legal e do contraditório para restar confirmado (ou não), mas podemos - pelo menos - colher algumas ideias iniciais e bastante abrangentes sobre como se percebe, publicamente, a conduta de muitos líderes evangélicos do país. 

"A imagem é tudo!" resume a sua estratégia mundana de dominação.

Hoje, basta alguém se apresentar como "portador" de uma revelação particular de Deus, que muita gente sequer questionará de onde vem aquele autodenominado "profeta", ou quais são as suas motivações, ainda mais se sua oratória incluir aquela pregação ofegante que, não se sabe desde quando, virou sinônimo de "inspiração divina". 

O simples fato de usar sofregamente o nome de Deus (em vão) dá a esta pessoa subitamente transformada em "emissário" o condão de ser imediatamente respeitado como uma voz autorizada a falar em nome do Divino. 

Ai de quem se recusar a ouvi-los...

Por isso, muitos incautos abrem as suas portas e os recebem como enviados sagrados, sem ao menos pedir ao Senhor que testifique pelo Seu Espírito sobre a idoneidade daquelas pessoas.

João, o apóstolo, evangelista, missivista e profeta, insiste muito no testemunho do Espírito Santo a respeito da segurança e da certeza que Deus dá a respeito das coisas sagradas e do discurso feito em Seu nome: 

João 3:32  E aquilo que ele viu e ouviu, isso testifica; e ninguém aceita o seu testemunho.
João 5:32  Há outro que testifica de mim, e sei que o testemunho que ele dá de mim é verdadeiro.
João 8:18  Eu sou o que testifico de mim mesmo, e de mim testifica também o Pai, que me enviou.
João 21:24  Este é o discípulo que testifica dessas coisas e as escreveu; e sabemos que o seu testemunho é verdadeiro.
1ª João 5:6  Este é aquele que veio por água e sangue, isto é, Jesus Cristo; não só por água, mas por água e por sangue. E o Espírito é o que testifica, porque o Espírito é a verdade.
Apocalipse 22:20  Aquele que testifica estas coisas diz: Certamente, cedo venho. Amém! Ora, vem, Senhor Jesus! 

Por sua vez, os crentes atuais não têm nenhuma preocupação com o testemunho pessoal e do Espírito Santo, pois (talvez por não conhecê-LO) aceitam como verdadeiro - e sem questionamento - o discurso religioso venha de quem vier, desde que use o nome de Deus como uma espécie de "senha" para que o seu suposto mensageiro seja "temido", "reverenciado" e tido por "divinamente inspirado". 

Depois fingem surpresa quando os escândalos acontecem. 

Simplesmente fingem que não é com eles...

Se - ao invés de se deixarem seduzir pelo primeiro canto de sereia que ouvissem - lessem a Bíblia, estariam minimamente familiarizados com a carta de Judas, que alerta sobre os ímpios que se infiltram dissimuladamente no meio da igreja, transformando a graça de Deus em libertinagem (v. 4), esses sonhadores que contaminam os próprios corpos e rejeitam as autoridades (v. 8), animais irracionais que difamam tudo o que não entendem (v. 10), buscando o lucro (v. 11), nuvens sem água, pastores que cuidam só de si mesmos, árvores sem frutos, duas vezes mortas (v. 12), espumando os seus próprios atos vergonhosos (v. 13) e seguindo os próprios desejos impuros (vv. 16 e 18).

"Estes são os que causam divisões entre vocês, os quais seguem a tendência da sua própria alma, e não têm o Espírito!" (Judas v. 19).



quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Escandalosa hipocrisia



A acusação que pesa sobre a deputada (PSD-RJ) e pop star gospel Flordelis (clique aqui para ler a matéria do El País), a se confirmar (garantindo-lhe a plena defesa), é uma réstia de luz que permite enxergar os fétidos intestinos do que se transformou parte muito expressiva do evangelicalismo no ex-Brasil. 

São tantos dados pirotécnicos sobre uma suposta "espiritualidade" que preferimos nos concentrar na frase que a deputada teria dito: “Fazer o quê? Separar dele não posso, porque senão ia escandalizar o nome de Deus". 

Considerando-se que esta informação foi dada por Promotor de Justiça que cuida do processo, é muito provável que a afirmação seja verdadeira. 

Também são inúmeros os ângulos pelos quais se pode tentar analisar a questão.

Entretanto, "o que eles fazem em oculto, o só referir é vergonha" (Efésios 5:12).

Por isso preferimos nos concentrarmos na frase acima transcrita, porque ela revela que - para este segmento muito popular do evangelicalismo brasileiro - a imagem vale muito mais do que a palavra. 

Se já não bastasse a releitura prática que eles fizeram de Mateus 6:33, que na versão deles diz "buscai, pois, em primeiro lugar, o poder político e o governo, e todas estas coisas vos serão acrescentadas", na verdade estão muito mais preocupados com o que os outros vão falar... 

Neste mundinho em que muita gente diz "sentir no coração" um "chamado" e imediatamente funda uma "igreja" na garagem de casa, imagem e popularidade são valores absolutos e inegociáveis. 

Por mais que prezem a imagem de "defensores da vida e da família" nas suas pregações ideológicas de ocasião, na prática vida e família são valores secundários, que podem ser cinicamente negociados e facilmente descartados quando surge a ameaça de "escândalo". 

Nas suas "revelações" particulares em terra de mais caciques do que índios, só existe espaço para o narcisismo travestido de "espiritualidade" e ai de quem ameaçar a imagem de piedade tão duramente fabricada... 

Bíblia e religiosidade são meros instrumentos que essa gente usa a seu bel prazer.

E ninguém lhes confronta, porque amanhã, quem sabe, eles poderão fundar a sua própria "igreja" e dela se beneficiarem.

Melhor se calar (por enquanto).

O "nome de Deus" é - lamentavelmente - mero joguete, uma espécie de "coringa" ao qual se recorre conforme a situação aperta.

Felizmente, "nada há oculto, que não haja de manifestar-se, nem escondido, que não venha a ser conhecido e revelado" (Lucas 8:17, 12:2; Mateus 10:26, Marcos 4:22).

Detalhes sórdidos à parte, a dura verdade é que, em muitos arraiais "evanjélicos", hoje impera uma versão macabra de hedonismo com alto poder... de implosão. 



terça-feira, 9 de junho de 2020

Black Lives Matter



Apesar de sermos do mesmo sangue dos nossos compatriotas e dos nossos filhos serem tão bons quanto os deles, ainda assim temos que sujeitar os nossos filhos e as nossas filhas à escravidão. E, de fato, algumas de nossas filhas já foram entregues como escravas e não podemos fazer nada, pois as nossas terras e as nossas vinhas pertencem a outros". 

Quando ouvi a reclamação e essas acusações, fiquei furioso. 

Neemias 5:5,6 - NVI


Percebo que há muitos crentes que se contentam em viver num mundo em que estão confortáveis com as suas vidas, não os incomodando o contexto social em que vivem, e muito menos têm ouvidos alertas para quem grita por socorro.

Ora, a salvação do Senhor em Cristo Jesus não nos foi graciosamente dada apenas para nos sentirmos bem conosco mesmos, mas também (e principalmente) para servir aos que dela carecem, independentemente de que a aceitem ou não.

"Assim também a fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta" (Tiago 2:17) 

Se outras vidas não lhe importam, talvez você não tenha entendido (ou, pior, não recebeu no seu mais íntimo) o evangelho da cruz de Cristo. 

O maior entre vocês deverá ser servo. (Mateus 23:11)

Então o Senhor perguntou a Caim: "Onde está seu irmão Abel? " Respondeu ele: "Não sei; sou eu o responsável por meu irmão? (Gênesis 4:9) 

Sim, eu sou, você é, todos nós somos responsáveis!

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Reflexões pandêmicas - 06


Houve um tempo em que os "evanjélicos" elaboravam discursos pomposos combatendo a descriminalização do aborto alegando razões éticas que, para eles, barravam qualquer discussão racional e/ou filosófica sobre o tema.

O tempo passou, algumas denominações se tornaram "puxadinhos" de partidos políticos, muitas igrejas se transformaram em verdadeiros comitês eleitorais com seus "rebanhos" cativos, "pastores" se converteram em animadores de comício, e tudo mudou.

Hoje, esses mesmos "evanjélicos" aceitam gozosamente ideias demoníacas como a eugenia e a eutanásia, tudo para defender os "mitos" e "falsos cristos" que colocaram no poder.

E o fazem com fanatismo perverso.

Para justificar a loucura, buscam no utilitarismo as razões filosóficas para apoiar a sua depravação.

Agora, quem diria, os fins justificam os meios.


quarta-feira, 15 de abril de 2020

Reflexões pandêmicas - 05


É impressionante como a ideologia tomou de assalto muitas igrejas "evanjélicas".

Sim, para elas hoje tudo é ideologia, de cabo a rabo, de ponta a ponta.

Seus líderes (e seguidores) chegam ao ponto de dizer que a medicina e o método científico são questões ideológicas, insistindo que este medicamento e aquele tratamento devem ser obrigatoriamente utilizados em tempos de pandemia.

Negam a ciência quando lhes é conveniente, quando o que querem mesmo é controlá-la para atender os seus interesses inconfessáveis.

Chame isto como quiser, com os neologismos "iteologia" ou "ideolatria", o estrago já está feito, os dias foram contados e o reino passou de ti.

Mene, mene. Tequel. Ufarsim...





quarta-feira, 8 de abril de 2020

Reflexões pandêmicas - 04


Quando a gente lê o Velho Testamento - e percebe a infidelidade que marcou a história dos reinos de Judá e Israel - começamos a nos perguntar como é que este povo foi capaz de abandonar a lei, os sinais maravilhosos e os ensinos do Senhor e se prostituir alegremente atrás de outros deuses, período após período, com raras exceções.

Os antigos livros históricos estão recheados de líderes (patriarcas, juízes, reis e até alguns profetas) que permitiram que seu rebanho se desviasse após divindades estrangeiras como Baal e Astarote.

Nós, cristãos do século XXI, sempre olhamos com um certo desdém para o povo bíblico daquela era, nos considerando, por assim dizer, imunes ao paganismo e à idolatria.

Entretanto, a realidade da modernidade nos pegou de calças curtas, e nos mostrou - na nossa meninice vaidosa - que a antiguidade não tem nada de diferente dos tempos atuais.

A pandemia que hoje devasta a Terra reforçou o comportamento de muitos "evanjélicos" que preferiram dobrar seus joelhos a um poste-ídolo em nome de uma "ideolatria", uma adoração da ideologia que - felizes e gozosos - abraçam e defendem com unhas e dentes.

Um fanatismo inaudito invadiu muitas denominações que se dizem "cristãs", já que não se pode mais chamá-las de "igrejas" visto que funcionam como comitês eleitorais e partidos políticos.

Tudo isto aceito com a mais absoluta normalidade, como no sermão profético de Jesus em Mateus 24:38, em que todos "comiam e bebiam, casavam e davam-se em casamento" antes do dilúvio, até que veio o fim.

Torna-se imperioso, portanto, reler o capítulo 24 do evangelho (com G) de Mateus, pois "muitos hão de se escandalizar, trair e odiar uns aos outros" (v. 10) e "por se multiplicar a iniquidade, o amor se esfriará de quase todos" (v. 12).

Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!


segunda-feira, 6 de abril de 2020

Reflexões pandêmicas - 03


Parece que a pandemia teve o condão de atiçar ainda mais certos indivíduos  aproveitadores que se identificam como líderes "evanjélicos" (com J mesmo já que não têm nada a ver com o evangelho com G que eles não pregam).

Com o isolamento forçado pelas autoridades de saúde pública, estes charlatões perderam completamente as estribeiras ao se verem desprovidos de rebanho, arrecadação e - sobretudo - de como ostentar uma "espiritualidade fingida" para manipular tudo isto a seu favor.

Impedidos de apelar às encenações presenciais emotivas acompanhadas de suas ameaças verbais travestidas de "sabedoria" religiosa, restou-lhes o perigoso discurso vitimizado mediante o qual adoram o poste-ídolo que os (des)governa, vociferam os seus impropérios e apresentam dados mentirosos, tentando trazer o rebanho de volta aos seus templos e à economia em geral, como se o mundinho em que vivem estivesse desconectado das penúrias planetárias.

Revelam-se completamente desconectados da realidade, dissociados da humanidade e - pior - da graça de Deus, pois no seu "evanjelho" só existe espaço para aquilo que eles são capazes de comandar e realizar com as próprias forças, sem nenhum vínculo ou compromisso com o caminho, a verdade e a vida (João 14:6).

Na sua "pregação" não há, portanto, espaço para a provisão de Deus, visto que pelo seu agir e falar - implicitamente - eles negam que o Todo-Poderoso tenha qualquer controle da situação atual.

No desespero, pouco lhes importa que seus atos e palavras delatem ao mundo que eles servem ao pai da mentira (João 8:44).


sexta-feira, 3 de abril de 2020

Reflexões pandêmicas - 02


Chama a atenção a informação divulgada ontem, 2 de abril de 2020, de que a COVID-19, enfermidade causada pelo coronavírus (SARS-CoV-2), atingiu a simbólica (e macabra) marca de 1 milhão de infectados no mundo, com 51.718 mortes confirmadas até então.

Ainda que haja divergências muito significativas entre os registros oficiais e as estimativas extraoficiais (supondo-se na casa de 15 a 30 vezes maiores as segundas do que os primeiros), o espraiamento da contaminação nos permite chegar pelo menos a três conclusões.

A primeira é a constatação prática e definitiva da nossa humanidade comum, do quanto somos interligados e codependentes não só como povos, economias, nações, idiomas, etnias, mas sobretudo como a espécie frágil que domina o planeta Terra.

A segunda é que esta, digamos, comunhão de destinos passa inicialmente pelo recorte de classe social até se homogeneizar e pender para o lado mais fraco.

Explico: o contágio começa pelas classes superiores, executivos e turistas que viajam pelo mundo carregando consigo e irradiando a ameaça virótica, depois passam para suas famílias e daí se espraiam para aqueles que com eles trabalham até atingirem as grandes massas proletárias desestruturadas e desassistidas por um sistema político-econômico que as ignora.

Neste aspecto, uma das primeiras mortes registradas no país foi a de uma empregada doméstica na casa dos 60 anos de idade que conviveu com sua patroa que havia acabado de regressar da Europa com os sintomas característicos da COVID-19 e não a havia alertado do risco que ela estava correndo enquanto - já enferma - explorava o trabalho digno e honesto da serviçal.

Um triste retrato imperfeito e acabado do Brasil.

A terceira conclusão vem da observação de que "pipocam" nas redes sociais as imagens dos outros animais que, surpresos com a desocupação humana das ruas e das cidades, estão pouco a pouco se aventurando em domínios nunca antes visitados.

Outro dia mesmo, tendo que quebrar momentaneamente a quarentena para atender uma necessidade básica absoluta de casa, reparei como os pássaros silvestres estão se comportando diferente, voando aleatoriamente felizes e proclamando as ruas vazias como suas.

Desconfio que a natureza reclama de volta o planeta que os humanos não souberam cuidar.


segunda-feira, 30 de março de 2020

Reflexões pandêmicas - 01



Bastou um ser microscópico para expor todas as mazelas e misérias mundiais.

Bastou um vírus para calar as "profetadas" dos impostores que "decretam", "determinam" e "revelam" os seus próprios medos e as suas mais deslavadas manipulações.

Arrependam-se!