Chama a atenção a informação divulgada ontem, 2 de abril de 2020, de que a COVID-19, enfermidade causada pelo coronavírus (SARS-CoV-2), atingiu a simbólica (e macabra) marca de 1 milhão de infectados no mundo, com 51.718 mortes confirmadas até então.
Ainda que haja divergências muito significativas entre os registros oficiais e as estimativas extraoficiais (supondo-se na casa de 15 a 30 vezes maiores as segundas do que os primeiros), o espraiamento da contaminação nos permite chegar pelo menos a três conclusões.
A primeira é a constatação prática e definitiva da nossa humanidade comum, do quanto somos interligados e codependentes não só como povos, economias, nações, idiomas, etnias, mas sobretudo como a espécie frágil que domina o planeta Terra.
A segunda é que esta, digamos, comunhão de destinos passa inicialmente pelo recorte de classe social até se homogeneizar e pender para o lado mais fraco.
Explico: o contágio começa pelas classes superiores, executivos e turistas que viajam pelo mundo carregando consigo e irradiando a ameaça virótica, depois passam para suas famílias e daí se espraiam para aqueles que com eles trabalham até atingirem as grandes massas proletárias desestruturadas e desassistidas por um sistema político-econômico que as ignora.
Neste aspecto, uma das primeiras mortes registradas no país foi a de uma empregada doméstica na casa dos 60 anos de idade que conviveu com sua patroa que havia acabado de regressar da Europa com os sintomas característicos da COVID-19 e não a havia alertado do risco que ela estava correndo enquanto - já enferma - explorava o trabalho digno e honesto da serviçal.
Um triste retrato imperfeito e acabado do Brasil.
A terceira conclusão vem da observação de que "pipocam" nas redes sociais as imagens dos outros animais que, surpresos com a desocupação humana das ruas e das cidades, estão pouco a pouco se aventurando em domínios nunca antes visitados.
Outro dia mesmo, tendo que quebrar momentaneamente a quarentena para atender uma necessidade básica absoluta de casa, reparei como os pássaros silvestres estão se comportando diferente, voando aleatoriamente felizes e proclamando as ruas vazias como suas.
Desconfio que a natureza reclama de volta o planeta que os humanos não souberam cuidar.