terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Superioridade moral e ideologia


por Tomáš Halík, padre católico tcheco (“Toque as Feridas”, Ed. Vozes, 2016, pág. 132/133):

Aquele idealismo moral e o rigorismo moral, que dele resulta, aquelas expectativas exageradas e exigências excessivamente duras, porém, causam muitas vezes frustração, enfado e resignação. Quem se satisfaz apenas com o melhor não preza o bom; quem se satisfaz apenas com um parceiro ideal não preza aquele que tem; muitas vezes, o relacionamento, que poderia ser bom, se transforma em um inferno de acusações e decepções ininterruptas, e, muito provavelmente, ele não persistirá.

Os tchecos aplicam os altos padrões hussitas não só à Igreja (para então chegarem à conclusão inevitável que a Igreja, por não ser ideal, não presta para nada), mas também à política. Sem querer defender uma postura acrítica ou a desistência de reivindicações e princípios fundamentais, mas quando ouço nos bares aquela lamentação permanente e generalizante, não diferenciada sobre tudo e todos na política democrática, eu fico um pouco sem jeito. Encontramos esse choro já na publicidade da primeira república, na jovem democracia da Tchecoslováquia, e aqueles lamentos se parecem muito com os de hoje. Não surpreende, portanto, que os tchecos resistiram tão pouco quando, nos anos do pós-guerra, aos poucos lhes foram roubando a liberdade e a democracia até que, no início da década de 1950, nada mais lhes restava (situação esta que permaneceria durante meio século). Não surpreende também que os mais diversos restos de preconceitos, injúrias e ressentimentos contra a democracia e a Igreja, que, desde os tempos do totalitarismo, sobreviveram nas cabeças de tantas pessoas (também daquelas que hoje se distanciam claramente do comunismo) — e às quais todos os erros inegáveis da democracia e da Igreja — dos quais sempre existiram, existem e existirão muitos — servem apenas como um argumento bem-vindo para seus julgamentos generalizantes e, por isso, injustos.