Aquele idealismo moral e o rigorismo moral, que dele
resulta, aquelas expectativas exageradas e exigências excessivamente duras,
porém, causam muitas vezes frustração, enfado e resignação. Quem se satisfaz
apenas com o melhor não preza o bom; quem se satisfaz apenas com um parceiro
ideal não preza aquele que tem; muitas vezes, o relacionamento, que poderia ser
bom, se transforma em um inferno de acusações e decepções ininterruptas, e,
muito provavelmente, ele não persistirá.
Os tchecos aplicam os altos padrões hussitas não só à Igreja
(para então chegarem à conclusão inevitável que a Igreja, por não ser ideal,
não presta para nada), mas também à política. Sem querer defender uma postura
acrítica ou a desistência de reivindicações e princípios fundamentais, mas
quando ouço nos bares aquela lamentação permanente e generalizante, não
diferenciada sobre tudo e todos na política democrática, eu fico um pouco sem
jeito. Encontramos esse choro já na publicidade da primeira república, na jovem
democracia da Tchecoslováquia, e aqueles lamentos se parecem muito com os de
hoje. Não surpreende, portanto, que os tchecos resistiram tão pouco quando, nos
anos do pós-guerra, aos poucos lhes foram roubando a liberdade e a democracia
até que, no início da década de 1950, nada mais lhes restava (situação esta que
permaneceria durante meio século). Não surpreende também que os mais diversos
restos de preconceitos, injúrias e ressentimentos contra a democracia e a
Igreja, que, desde os tempos do totalitarismo, sobreviveram nas cabeças de
tantas pessoas (também daquelas que hoje se distanciam claramente do comunismo)
— e às quais todos os erros inegáveis da democracia e da Igreja — dos quais
sempre existiram, existem e existirão muitos — servem apenas como um argumento
bem-vindo para seus julgamentos generalizantes e, por isso, injustos.