segunda-feira, 28 de março de 2022

"O Show de Truman" e o direito de mudar de vida



Mantenho há décadas o saudável hábito de rever os meus filmes favoritos, aqueles (clássicos ou não) que — de alguma forma — ajudaram a construir o ser humano que eu sou.

Afinal, os bons filmes costumam resistir ao tédio e à monotonia e se revelar (assim como os seus segredos) após esta sucessão de, digamos, agradáveis "releituras".

Dentro desta pequena lista está "O Show de Truman" ("The Truman Show", 1998), que foi aos poucos se enveredando na minha "top ten movies of all time list" e hoje, muitas vezes visto e revisto, posso concluir — para espanto de muitos (e meu próprio) — que é o melhor filme que vi na minha vida, sim, senhoras e senhores, cheguei ao número 1.

Alerta: o texto a seguir contém spoilers (não tão relevantes) do filme "O Show de Truman".

Pouparei os leitores de maiores detalhes (o filme fala por si só) mas queria registrar apenas um ponto focal que reparei na última vez que o assisti alguns dias atrás e que reproduz uma lição que aprendi e apliquei na minha própria vida (desde os anos 1980's do milênio passado) e que comentei a várias pessoas que me procuraram em busca de um conselho que as fizesse enfrentar um problema que as afligia e mudar de vida (para melhor, obviamente).

Assim como na minha vida e na vida de tantas outras pessoas, na ficção de Truman as mudanças definitivas só ocorrem quando ele (o personagem brilhantemente vivido por Jim Carrey) decide alterar radicalmente a sua rotina e — a partir de então — começa a fazer as mínimas coisas de maneira paulatina e/ou completamente diferente.

Sim, creia-me: pequenas mudanças no seu cotidiano, aparentemente imperceptíveis, têm um poder enorme de trazer benefícios perenes.

Parêntesis para o proposital nome do personagem central do filme em questão: Truman Burbank

"True man" em inglês significa "homem verdadeiro" e Burbank é a cidade californiana localizada na área metropolitana de Los Angeles (a cujo Condado pertence) onde estão localizados os estúdios de boa parte das redes americanas de TV e dos grandes produtores de cinema, aí incluída a Disney.

Voltando: no momento em que Truman Burbank percebe que a sua vida é uma rotina mal ensaiada (e mal televisada, apesar da repetição constante), é que ele se permite ter o insight de que mudanças são necessárias, vitais e urgentes, por mínimas que pareçam naquele instante.

A partir daí ele começa a se libertar da sua prisão mental e social, constatando que — até então — havia sido refém de uma gaiola montada artificialmente para o prazer mórbido (por que não dizer... fetiche?) dos outros e que está nele, apesar de todas as intempéries (lembrem-se da tempestade final), o poder de simplesmente dizer não!

Não por acaso, na cena final Truman repete o bordão com o qual ele começa o seu dia todos os dias respondendo ao "bom dia" dos vizinhos (iniciando a rotina maçante diária do que os outros esperam dele): "in case i don't see ya, good afternoon, good evening and good night!" (algo que poderia ser traduzido bem livremente naquele contexto como sendo: "caso eu não veja vocês, um belo dia de trabalho, bom regresso à casa e bons sonhos à noite!").

Entediante, não é mesmo?

Melhor não!

Convenhamos: o show da vida pode (e deve) ser bem melhor!









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