sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Crentes quânticos



A história é real, mas evitarei identificar as pessoas e as situações para que ninguém se sinta pessoalmente ofendido, já que vou utilizar um exemplo – infelizmente - corriqueiro para, a partir dele, traçar o perfil de toda uma geração que se diz “evangélica”.


O fato é que uma pessoa razoavelmente conhecida no ambiente empresarial, e que se diz “evangélica”, afirmou num certo meio - algum tempo atrás - que “acredita na física quântica”.


Isto sem mencionar Cristo em nenhum momento.


Obviamente, essa suposta “crença na física quântica” já é algo que faz corar qualquer físico digno deste nome, eles próprios já tão envergonhados com o desvio esotérico que Fritjof Capra deu a esta nobre área do conhecimento com o seu “Tao da Física”, só para citar um de seus livros.


Daí porque não nos arriscaremos a abordar este campo do saber, primeiro porque não o dominamos (sequer o arranhamos) e, segundo, porque respeitamos quem o estuda seriamente e não quer confundir alhos com bugalhos, nem partículas com questiúnculas.


Voltando ao primeiro parágrafo, portanto, aquela pessoa ali referida, que tem aparência e linguajar “evangélicos” e “crê na física quântica”, tem uma equipe de “oração” devidamente postada na sua empresa, pronta para “vibrar” qual “partícula quântica” enquanto as vendas são feitas (e parece que a “vibração” funciona).


Sim, o “deus” dessa gente é “tremendo”.

Curiosamente, certos, digamos, “deslizes” como criatividade tributária, palavras não honradas, calotes e outras práticas igualmente pouco ortodoxas são deixadas pra lá.

Melhor não mencioná-los.

O fato é que esta pequena narrativa da vida real revela que esses “evangélicos” atuais estão muito mais preocupados em “vibrar” do que orar.


Assim como a mulher de César, eles precisam – mais do que ser crentes – parecer crentes.

Para tanto, é necessário seguir um certo ritual, vibrar, tremer, gritar e proferir discursos seguindo determinado jargão na linha do pensamento positivo, repetindo mantras gospel e frases pomposas – supostamente piedosos - a fim de que possam ser reconhecidos como os “escolhidos” que, na sua visão enviesada, herdarão esta terra.

(Curioso também perceber que os poucos que ouviram falar da teologia de Calvino o detestam, mas na vida real - e no discurso - se comportam como hipercalvinistas)


E não para por aí.

Outro dia, passando por uma cidade do interior, reparei na – talvez – “missão” que estava escrita abaixo do nome de uma dessas inúmeras denominações que se multiplicam hoje em dia, e lá estava “amar a Deus, amar a vida, amar as pessoas”.


Tivesse esse povo dito “evangélico” praticado a leitura (e vivência) da Bíblia ao invés de apenas “vibrar” e decorar frases feitas, teria lido em uma de suas passagens mais marcantes que o próprio Cristo disse que “aquele que ama a sua vida, a perderá; ao passo que aquele que odeia a sua vida neste mundo, a conservará para a vida eterna” (João 12:25 - NVI).


Em triste resumo, Jesus não seria aceito hoje por aqueles que dizem segui-lO, talvez porque não vibrasse nem pensasse positivo o suficiente para esta gente tão preocupada em “amar a vida” à sua própria maneira.


Tremendo...




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